sábado, 28 de maio de 2016

A elegância cênica da Avenida Roberto Freire


Por Haroldo Mota

Natal é uma cidade de destino turístico, predominantemente por sua vocação cênica majestosa, contemplada por paisagens naturais que transfere para a alma e beneficia o espirito pacificador de seus visitantes e habitantes, dando-nos a entender que realmente o paraíso terrestre é aqui.

O Morro do Careca e o conjunto do cinturão do cordão das dunas de Ponta Negra forma esse espetacular cartão postal e maravilhoso tesouro do povo potiguar. Esse conjunto de beleza e contemplação irriga a cidade de pungência financeira deixada pelos turistas.

Para avistá-lo, os não residentes no bairro de Ponta Negra ou os turistas hospedados em outras localidades da cidade, terão várias maneiras para contemplar essa natureza, indo de carro, de ônibus, a pé ou de bicicleta, meio de transporte preferido por muitos.

Saindo dos bairros centrais da cidade, há duas opções: pela Via Costeira ou pela Avenida Roberto Freire. 

Indo pela Via Costeira, se vislumbra os cenários das dunas e o mar, ao longe avistando-se o Morro do Careca.  O fascínio de se aproximar da beleza do Morro atinge o ápice quando se passa pela rotatória da Avenida Roberto Freire.


O mesmo acontece quando se desloca pela Avenida Roberto Freire. Aqui a magia é outra. Trafega-se por um verde forte e vivo de árvores, cheias de flores e buquês coloridos; sejam elas plantadas no canteiro central ou no Parque das Dunas, patrimônio da humanidade, a floresta da Mata Atlântica. 


Natal é o destino turístico mais disputado da região Nordeste e de expressiva visitação internacional, pela simples razão de reunir em um pequeno espaço geográfico belezas naturais ímpares e generosas. 

Sua população é uma das mais hospitaleiras e amáveis da região. A receptividade e amabilidade são frutos da sinergia do espaço no qual se recebe luz e paz, vindo especialmente dos seus diversos mosaicos naturais. 

Agora, uma ameaça pode sepultar literalmente essa espetacular vista. 
Essa ameaça tem uma extensão de aproximadamente 730 metros – um túnel que sairá defronte do Praia shopping, indo até depois da Feirinha de Artesanato em Ponta Negra. 

Parabenizamos o Secretário de infraestrutura do Estado, o Senhor Jader Torres, pelas inúmeras reuniões com os diversos segmentos da sociedade, apresentando a nova concepção do projeto de reestruturação da Avenida Roberto Freire. 

Participei de duas apresentações e,  comparando o atual projeto com o anterior, vejo que temos de corrigir dois pontos fundamentais: a) o túnel de 730 metros; e b) a inexistência de  ciclovias ou ciclofaixas ao longo da avenida.

Quanto ao túnel, uma, irá esconder e tirar em grande parte a contemplação da visão da beleza paisagística e cartão postal de Natal, o Morro do Careca e seu cordão de dunas para quem trafega na região; duas, sua construção representa um custo milionário dispensável; terceiro, o custo no orçamento da execução do túnel desta obra, representa um percentual bastante significativo e elevado no montante final do projeto; por fim, sua construção implicará em um impacto ambiental imenso, tanto pela grande quantidade da retirada do solo da região, poluição atmosférica e sonora gerada pelos equipamentos, maquinários e veículos.

Quanto à inexistência de ciclovias ou ciclofaixas ao longo da avenida até o viaduto de Ponta Negra na BR 101, é um conceito superado na interação da mobilidade humana com as cidades. Descaracteriza a qualidade de vida da população, incentivando cada vez mais o congestionamento e a poluição atmosférica. 

Como proposta, poderíamos eliminar esse túnel de 730 metros, fazendo a continuação do fluxo de veículos pela Av. Praia de Ponta Negra, ao invés de entrar na Av. Roberto Freire na Feirinha de Artesanato. A saída deste fluxo, para se dirigir a Av. Roberto Freire ou a Via Costeira se daria por baixo, onde localiza-se a rotatória da Via Costeira
.
Muito se fala na apresentação do projeto, no intenso fluxo de veículos vindos de várias regiões da cidade para adentrar na Avenida Praia de Ponta Negra e, consequentemente, dirigir-se à Avenida Roberto Freire e à Via Costeira.

Pensando como morador do bairro de Ponta Negra, vejo que temos de adotar melhorias para a entrada do fluxo de moradores para o Conjunto de Ponta Negra, tendo em vista, a pretensão do projeto, inverter o fluxo da principal entrado do mesmo.   Primeiro, adotar um sentido único de entrada pela Avenida Praia de Genipabu; segundo, melhorias nas avenidas Praia de Areia Branca, Praia de Tibau e Praia de Búzios; e terceiro, adequação da Avenida Praia de Muriú, com a interligação da Rota do Sol (RN 063). 

Temos que pensar urgentemente numa mobilidade inteligente de massa para solucionar em grande parte a locomoção da população em suas diversas necessidades, pela simples razão de que cada vez mais deveremos escavar túneis em cada cruzamento da cidade, isto representa má qualidade de vida para a população.

Uma das soluções é a implantação da malha sustentável de transporte de massa da população por bondes ou trens elétricos nos principais eixos de deslocamento da cidade. Aqui, quero frisar o nome do meu amigo Profº Rubens Ramos da UFRN, que é doutor neste assunto e grande defensor deste sistema.

Na verdade são quatro linhas principais. A linha “Cidade do Sol” - Natal/Parnamirim”, a linha “Câmara Cascudo - Prudente de Morais/BR 101”, a linha “Rio Potengi - Zona Norte/Bernardo Vieira” e a linha “Parque das Dunas - Roberto Freire/Viaduto de Ponta Negra”.

A primeira, linha “Cidade do Sol - Natal/Parnamirim”, começa no viaduto de Parnamirim, interagindo com a transferência de passageiros da linha de trem existem da CBTU. Seguindo em direção a Natal, pela BR 101, Av. Salgado Filho e Av. Hermes da Fonseca.

A segunda, linha “Câmara Cascudo - Prudente de Morais/BR 101”, começa na BR 101, interagindo com a transferência de passageiros da linha “Cidade do Sol - Natal/Parnamirim”.

A terceira, linha “Rio Potengi - Zona Norte/Bernardo Vieira”, começa no bairro de Igapó, cruza toda a Av. Bernardo Vieira, com a interação de transferência de passageiros com as linhas “Câmara Cascudo - Prudente de Morais/BR 101” e “Cidade do Sol - Natal/Parnamirim”.

Por fim, a última, a linha “Parque das Dunas - Roberto Freire/Viaduto de Ponta Negra”, começa próximo a Vila de Ponta Negra, cruzando toda a Av. Roberto Freire e finaliza retornando com os passageiros da linha da “Cidade do Sol” dos sentidos  Natal/Parnamirim ou de Parnamirim/Natal.

O interessante com a implantação deste serviço, é que nem um ônibus, dos municípios da região metropolitana de Natal, poderia trafegar na cidade, com a obrigatoriedade do desembarque dos passageiros nos pontos iniciais do sistema. Não existiria ônibus circulando nestes eixos, somente nos bairros para suprir a demanda e alimentar o sistema.

A mobilidade do sistema é na superfície, diminuindo o custo de implantação. A energia motriz é fornecida pelo parque eólico do estado, portanto, uma mobilidade zero carbono.

A manutenção dos custos operacionais do sistema é mantida pelos usuários do sistema e a outra parte pela cobrança de pedágio, dos automóveis que trafegam nas avenidas da cidade, obedecendo critérios de horários e dias da semana.

Para finalizar, a cidade deve eleger gestores que pensem na humanização e bem-estar da população, que saibam conduzir o processo participativo e colaborativo na gestão, que zelem pelos seus recursos financeiros e ambientais finitos e saibam aproveitar a gentileza do seu povo e a beleza da sua terra.

*Haroldo Mota

 É ativista ambiental, administrador de empresa, cidadão Natalense e presidente da ONG Baobá.

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