quarta-feira, 6 de julho de 2016

Vale a pena lutar pela Mata

* Haroldo Mota

Os últimos meses do ano de 2009, foram marcantes para o movimento ambientalista do RN, pela luta contra a destruição de uma extensa área de Mata Atlântica primária, para a abertura de uma rodovia de acesso ao antigo aeroporto de Parnamirim, trecho compreendido entre os bairros de Satélite (Natal) e Emaús (Parnamirim).

As obras estavam embargadas e a pressão pela continuação da estrada era imensa, por parte do governo estadual e dos empresários.


Dois eventos importantes ficaram marcados contra a destruição da Mata Atlântica e a continuação da estrada.

O primeiro, ocorreu no dia 13 de novembro de 2009, quando o movimento ambientalista promoveu uma audiência pública na Assembleia Legislativa para discutir com o poder público e a sociedade, sobre os riscos da continuação das obras.

Nossa intenção era solicitar a revisão do projeto com o propósito de conseguirmos o deslocamento da via, salvaguardando a integridade do patrimônio biológico da reserva.

Na audiência, o promotor de Justiça do Meio Ambiente Dr. Márcio Diógenes, declarou “A rodovia passa por duas zonas de proteção e sequer tem licença ambiental no município de Paramirim”.

O segundo evento, foi marcado pela presença de Mário Mantovani da SOS Mata Atlântica, que veio a Natal, especialmente para um ato de protesto contra a destruição da reserva de Mata Atlântica.

Saímos de bicicleta, defronte ao IFRN, num sábado a tarde do mês de dezembro, até Parnamirim. Um carro de som nos acompanhava com diversas palavras de Mário sobre a importância das florestas.

No local, onde começava o prolongamento da estrada, sentido Parnamirim/Natal, plantamos simbolicamente várias árvores, na verdade eram inúmeras cruzes de madeira pintada de preto, onde constavam os nomes em tinta branca: pau brasil, ipê, massaranduba, jatobá, peroba e vários outras.

Neste cicloprotesto, além de Mantovani, estavam o pessoal da ONG Baobá, da Bicicletada Natal, dos Amigos da Natureza e o coordenador do Instituto Reação Periférica Diego Eisenhower.

O Ministério Público do Rio Grande do Norte, por meio do promotor Márcio Diógenes, recebeu denúncias para investigar o desmatamento na área do Parque das Serras, no bairro Cidade Satélite. O promotor Dr. Márcio abriu um inquérito civil de nº 024/2009, que foi publicado no Diário Oficia do Estado, no dia 15 outubro de 2009.

Destes atos, conseguimos embargar, sensibilizar a população e o governo estadual, pela paralisação das obras, solicitando um novo estudo, por um novo traçado, usando as bordas da reserva, que neste caso não haveria uma grave e expressiva divisão da reserva biológica, como estava sendo executado na referida obra.

Uma grande surpresa nos aguardava! Na virada do final do ano de 2009, um juiz concede autorização pela continuação das obras.

Foi uma grande decepção, tínhamos todos os argumentos que o novo traçado iria proporcionar um impacto ambiental bem menor.

Há um artigo de Daniel Menezes, publicado no dia 13 de abril de 2013, no Carta Capital, com o título “O  estranho caso do prolongamento da Prudente de Morais”http://www.cartapotiguar.com.br/2013/04/10/o-estranho-caso-do-prologamento-da-prudente-de-morais/ é bem interessante ler.

Finalmente, agora no dia 1º de julho de 2016, recebemos uma notícia boa!

A Justiça Federal condena o Departamento de Estrada e Rodagem do RN - DER, a pagar uma indenização por danos ao meio ambiente na obra de construção do prolongamento da Av. Prudente de Morais.

O valor de R$ 2 milhões será destinado a um fundo de natureza ambiental. Além disso, o DER está obrigado a executar projeto de compensação ambiental, na forma da destinação de área equivalente à extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas.

“É evidente que restou caracterizado o dano ambiental, pela supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração do Bioma da Mata Atlântica, destinada a proteger o entorno das unidades de conservação, sem a realização de estudos necessários para garantir a sobrevivência de espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção”, escreveu o Juiz Federal Mário Azevedo Jambo na sentença.




Mário Mantovani, quem sabe com esse recurso não poderemos pensar também no projeto da Lei da Mata Atlântica e implantar os Planos Municipais na região metropolitana da capital.

O preço é uma pena pequena de valor financeiro. Mas, existe o processo de educação que o degradador irá cumprir, criando a atmosfera de valorar os danos ambientais.

Sabemos que o grave erro cometido com a reserva da Mata Atlântica em Parnamirim, não trará a floresta original de volta. Mas, essa sentença é muito importante, é um troféu, um estandarte da nossa resistência por salvaguardar nosso paraíso terrestre.

* Haroldo Mota

É ativista ambiental, administrador de empresa e presidente fundador da ONG Baobá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário