Por Haroldo Mota
Natal é uma
cidade de destino turístico, predominantemente por sua vocação cênica majestosa,
contemplada por paisagens naturais que transfere para a alma e beneficia o
espirito pacificador de seus visitantes e habitantes, dando-nos a entender que
realmente o paraíso terrestre é aqui.
O Morro do
Careca e o conjunto do cinturão do cordão das dunas de Ponta
Negra forma esse espetacular
cartão postal e maravilhoso tesouro do povo potiguar. Esse
conjunto de beleza e contemplação irriga a
cidade de pungência financeira deixada pelos turistas.
Para avistá-lo, os não residentes
no bairro de Ponta Negra ou os
turistas hospedados em outras localidades da cidade, terão várias
maneiras para contemplar essa
natureza, indo de carro, de
ônibus, a pé ou de bicicleta,
meio de transporte preferido por muitos.
Saindo dos
bairros centrais da cidade, há duas opções: pela Via
Costeira ou pela Avenida Roberto Freire.
Indo pela Via
Costeira, se vislumbra os cenários das dunas e
o mar, ao longe avistando-se o Morro do
Careca. O fascínio de se
aproximar da beleza do Morro atinge o ápice quando se passa pela rotatória da
Avenida Roberto Freire.
O mesmo
acontece quando se desloca pela Avenida
Roberto Freire. Aqui a magia é outra. Trafega-se por um verde forte
e vivo de árvores, cheias de
flores e buquês coloridos; sejam elas
plantadas no canteiro central ou no Parque das
Dunas, patrimônio da humanidade, a floresta da
Mata Atlântica.
Natal é o
destino turístico mais disputado da região Nordeste e de expressiva
visitação internacional, pela simples razão de reunir em
um pequeno espaço geográfico belezas naturais ímpares e generosas.
Sua
população é uma das mais hospitaleiras e amáveis da região. A receptividade e
amabilidade são frutos
da sinergia do espaço no qual se recebe luz e paz, vindo especialmente dos seus
diversos mosaicos naturais.
Agora, uma
ameaça pode sepultar literalmente essa espetacular vista.
Essa ameaça
tem uma extensão de aproximadamente 730 metros – um túnel que sairá defronte do Praia shopping,
indo até depois da Feirinha de Artesanato
em Ponta Negra.
Parabenizamos o Secretário
de infraestrutura do Estado, o Senhor Jader Torres, pelas inúmeras reuniões com
os diversos segmentos da sociedade, apresentando a nova concepção do projeto de
reestruturação da Avenida Roberto Freire.
Participei
de duas apresentações e, comparando o
atual projeto com o anterior, vejo
que temos de corrigir dois pontos fundamentais: a) o túnel de 730
metros; e b) a
inexistência de ciclovias ou ciclofaixas ao longo da
avenida.
Quanto ao túnel, uma, irá esconder e tirar em grande
parte a contemplação da visão da beleza paisagística e cartão postal de Natal,
o Morro do Careca e seu cordão de dunas para quem trafega na região; duas, sua
construção representa um custo milionário dispensável; terceiro, o custo no orçamento
da execução do túnel desta obra, representa um percentual bastante
significativo e elevado no montante final do projeto; por fim, sua construção
implicará em um impacto ambiental imenso, tanto pela grande quantidade da retirada
do solo da região, poluição atmosférica e sonora gerada pelos equipamentos, maquinários
e veículos.
Quanto à inexistência
de ciclovias ou ciclofaixas ao longo da
avenida até o viaduto de Ponta Negra
na BR 101, é um conceito superado na interação
da mobilidade humana com as cidades.
Descaracteriza a qualidade de vida da população, incentivando
cada vez mais o congestionamento e a poluição atmosférica.
Como
proposta, poderíamos eliminar esse túnel de 730 metros, fazendo a continuação
do fluxo de veículos pela Av. Praia de Ponta Negra, ao invés de
entrar na Av. Roberto
Freire na Feirinha de Artesanato. A saída deste fluxo, para se dirigir a Av. Roberto
Freire ou a Via
Costeira se daria por baixo, onde
localiza-se a rotatória da Via Costeira
.
Muito se fala na
apresentação do projeto, no intenso fluxo de veículos
vindos de várias regiões da cidade para
adentrar na Avenida Praia de Ponta Negra e, consequentemente, dirigir-se à Avenida
Roberto Freire e à Via Costeira.
Pensando
como morador do bairro de Ponta Negra, vejo que temos de adotar melhorias para
a entrada do fluxo de moradores para o Conjunto de
Ponta Negra, tendo em vista, a pretensão do projeto, inverter o fluxo da
principal entrado do mesmo. Primeiro, adotar um sentido único de entrada
pela Avenida Praia de Genipabu; segundo, melhorias nas avenidas Praia de Areia
Branca, Praia de Tibau e Praia de
Búzios; e terceiro,
adequação da Avenida Praia de Muriú, com a interligação
da Rota do Sol (RN 063).
Temos que
pensar urgentemente numa mobilidade inteligente de massa para solucionar em
grande parte a locomoção da população em suas diversas necessidades, pela
simples razão de que cada vez mais deveremos escavar túneis em cada cruzamento
da cidade, isto representa má qualidade de vida para a população.
Uma das
soluções é a implantação da malha sustentável de transporte de massa da
população por bondes ou trens elétricos nos principais eixos de deslocamento da
cidade. Aqui, quero frisar o nome do meu amigo Profº Rubens Ramos da UFRN, que
é doutor neste assunto e grande defensor deste sistema.
Na verdade
são quatro linhas principais. A linha “Cidade do Sol” - Natal/Parnamirim”, a
linha “Câmara Cascudo - Prudente de Morais/BR 101”, a linha “Rio Potengi - Zona
Norte/Bernardo Vieira” e a linha “Parque das Dunas - Roberto Freire/Viaduto de
Ponta Negra”.
A primeira,
linha “Cidade do Sol - Natal/Parnamirim”, começa no viaduto de Parnamirim, interagindo
com a transferência de passageiros da linha de trem existem da CBTU. Seguindo
em direção a Natal, pela BR 101, Av. Salgado Filho e Av. Hermes da Fonseca.
A segunda, linha
“Câmara Cascudo - Prudente de Morais/BR 101”, começa na BR 101, interagindo com
a transferência de passageiros da linha “Cidade do Sol - Natal/Parnamirim”.
A terceira,
linha “Rio Potengi - Zona Norte/Bernardo Vieira”, começa no bairro de Igapó,
cruza toda a Av. Bernardo Vieira, com a interação de transferência de
passageiros com as linhas “Câmara Cascudo - Prudente de Morais/BR 101” e “Cidade
do Sol - Natal/Parnamirim”.
Por fim, a
última, a linha “Parque das Dunas - Roberto Freire/Viaduto de Ponta Negra”, começa
próximo a Vila de Ponta Negra, cruzando toda a Av. Roberto Freire e finaliza retornando
com os passageiros da linha da “Cidade do Sol” dos sentidos Natal/Parnamirim ou de Parnamirim/Natal.
O
interessante com a implantação deste serviço, é que nem um ônibus, dos municípios
da região metropolitana de Natal, poderia trafegar na cidade, com a
obrigatoriedade do desembarque dos passageiros nos pontos iniciais do sistema.
Não existiria ônibus circulando nestes eixos, somente nos bairros para suprir a
demanda e alimentar o sistema.
A mobilidade
do sistema é na superfície, diminuindo o custo de implantação. A energia motriz
é fornecida pelo parque eólico do estado, portanto, uma mobilidade zero
carbono.
A manutenção
dos custos operacionais do sistema é mantida pelos usuários do sistema e a
outra parte pela cobrança de pedágio, dos automóveis que trafegam nas avenidas
da cidade, obedecendo critérios de horários e dias da semana.
Para
finalizar, a cidade deve eleger gestores que pensem na humanização e bem-estar
da população, que saibam conduzir o processo participativo e colaborativo na
gestão, que zelem pelos seus recursos financeiros e ambientais finitos e saibam
aproveitar a gentileza do seu povo e a beleza da sua terra.
*Haroldo Mota
É ativista ambiental, administrador de
empresa, cidadão Natalense e presidente da ONG Baobá.
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